Arte é ‘sinal de resistência sob o bolsonarismo’, diz professor da UFSC que participa de conferência em Paris

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Pedro de Souza, professor do departamento de Língua Portuguesa da Universidade Federal de Santa Catarina. RFI

Pedro de Souza, professor do Departamento de Língua Portuguesa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi um dos debatedores do painel “L’art est-il possible en temps de bolsonarisme?”, ou, em português, “Será que a arte é possível em tempos de bolsonarismo?”, seminário que foi realizado nesta segunda-feira (25) na Universidade Paris 8, na capital francesa. Durante o evento, o acadêmico destacou o papel “da arte enquanto resistência” neste contexto e afirmou que “estética é política”.

“O bolsonarismo, além de ser um sistema político, representa uma mentalidade absolutamente fascista no Brasil, absolutamente controladora, moralista, no pior sentido do termo”, diz Souza. Segundo ele, para se falar da possibilidade da arte no Brasil, em tempo de bolsonarismo, é inevitável voltar o olhar e a escuta para “os anos duros do regime militar”.

Nesse mergulho no passado, com vistas para a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), Souza destacou durante sua participação no seminário da Paris 8, em Saint-Denis, entre outros artistas, a atuação da cantora Elis Regina no espetáculo Transversal do Tempo (1977), com direção e roteiro de Aldir Blanc e Maurício Tapajós. “Há, nesse show, uma ambientação de coragem radical, justamente porque documenta, em cena, o panorama sombrio de um Brasil dominado pela ditadura. Durante uma longa temporada, Elis dispõe a voz e o corpo dando a ver e a ouvir, com intensa sutileza, a denúncia dos horrores vividos em seu tempo presente”, diz Souza.

O professor trabalha com o conceito de noção de “vida artista”, cunhada pelo filósofo francês Michel Foucault. Souza explica que a expressão, do modo com que é formulada por Foucault, conduz a considerar o plano do vivido em que, em certo domínio artístico, se percebe como o sujeito se expõe em processo de constituição, ou seja, o artista fazendo de sua existência uma obra de arte.

“[O bolsonarismo] é uma equalização de procedimentos no sentido de controle, da violência a tudo o que é diferente, a todo modo de pensar que não coincide com o do Bolsonaro, e não apenas ele como pessoa, mas de toda uma corrente de pensamento absolutamente retrógrada, conservadora e moralista”, critica.

Sobre a recente participação do secretário de Cultura de Jair Bolsonaro, na sede da Unesco, em Paris, quando Roberto Alvim surpreendeu seus interlocutores internacionais citando um discurso religioso, dizendo que o governo Bolsonaro retomaria a “beleza” nas obras de arte, Souza diz que é possível fazer uma ponte com o conceito de “Arte Degenerada”, imposto na Alemanha dos anos 1930.

“É simples fazer essa ponte, quando o bolsonarismo censura um aspecto da arte que para nós é muito importante, que é pensar livremente, ou de outra maneira, a arte de promover a vida da maneira mais livre possível. Isso que o bolsonarismo vem trazendo através dos seus agente é justamente para interditar essa corrente rica de uma arte que promove a liberdade”, afirma.

“Resistência”

Para o professor, produzir arte sob o bolsonarismo no Brasil é sobretudo um “ato de resistência”. “Apesar de tudo, a arte continua sendo possível e ela acontece sob um signo de resistência. Produzir arte nestas condições difíceis de produção é exercer a resistência”, afirma Souza. “Penso que daqui a 15 anos teremos vestígios e resultados singulares do que está sendo este bolsonarismo. Eu acho que a singularidade deste momento é que nunca falamos tão livremente de nossos modos de existência sendo negro, ou gay, trans, sendo mulher”, analisa. “É isso que assusta, é isso que o Bolsonaro está querendo brecar”, diz.

“A arte que está sendo possível agora é o que vai tornar mais forte ainda esse modo de expressão, de existência, e de maneira estética. Mas estética não no sentido da beleza pura, estética no sentido da maneira viva de existir”, afirma o professor. “A estética é um gesto político”, finaliza Souza.

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Fonte: rfi

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